quarta-feira, 14 de março de 2012

Dia Nacional da Poesia

Hoje, em homenagem ao dia nacional da poesia e também ao meu brilhante professor de Teoria da Literatura II, que é quem me deu toda a vontade que tenho de ler poesia, eu resolvi me aventurar no mundo poético e postar um poema de Carlos Drummond de Andrade. Faz mais ou menos uma semana que li esse poema, e por algum motivo ainda desconhecido, ele não me sai da cabeça. 
Então, anteontem, estávamos eu e meu pai sentados na sala de casa (seria muito mais poético se fosse na varanda, eu sei) e eu li o poema para ele. Acabamos fazendo uma leitura do poema que eu não havia feito até então, e eu resolvi que escreveria ele aqui. Não haveria oportunidade melhor do que essa para postá-lo aqui. Espero que gostem! 

O Elefante

Fabrico um elefante 
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio. 
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais. 
Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho. 
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si 
desse corpo sensível
a fugitiva imagem, 
o passo desastrado
mais faminto e tocante. 

Mas faminto de seres 
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos,
esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento, 
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó. 
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me. 
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel. 
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de carícia, 
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado. 
Amanhã recomeço. 

Pense no elefante como uma pessoa. Alguém, sem nome, sem rosto, sem nada. Apenas alguém. Alguém doce, amável e verdadeiro. E esse alguém sai, "à procura de amigos", mas não os encontra, pois o mundo "já não crê nos bichos". O mundo é exigente, descrente, apressado. Ninguém olha, se preocupa e muito menos é amigável com um pobre elefante que, imperfeito e frágil, está à procura de amigos. E todas aquelas coisas de que o elefante precisava e com as quais ele sonhava, ele volta sem tê-las. "Eu e meu elefante, em que amo disfarçar-me." E tudo aquilo que o elefante era antes de sair pelo mundo à procura de amigos (doce, amável, verdadeiro...), se dissolve. Mas a boa notícia, no final do poema, é "amanhã recomeço". Amanhã recomeço o que era o início do dia, amanhã volto a ter esperanças e sonhos, e construo outro elefante que possa sair no mundo à procura de amigos. Talvez um dia se encontre enfim um amigo. 

Me lembrei agora de um versículo da Bíblia que dia que "o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã". Acho que é mais ou menos a mesma coisa. Amanhã recomeço. Nós sempre recomeçamos, graças a Deus! 

Então essa foi minha singela leitura desse poema tão bonito! Considerações ou opiniões, comentem ou mandei e-mail para blogrejoiceongod@gmail.com . Será um prazer enorme receber suas considerações! 

Fui. 

Um comentário:

  1. Rachel, gostei do que escreveu. Você ainda foi adiante do que conversamos. Viajou mais. Mas, foi muito realista e ainda conseguiu associar com a idéia bíblica. Legal mesmo! Pai

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